A sobrevida dos Titãs

Após mais de quinze anos de discos repletos de baladas radiofônicas, trilhas de novelas e até um disco só de covers (As dez mais, 1999), os Titãs reencontram um pouco de suas origens em Nheengatu (2014).

O disco se assemelha a coisas mais interessantes moldadas no punk rock que a banda fez no passado, como Jesus não tem dentes no país dos banguelas (1987) e Õ blésq blom (1989). Nheengatu surpreende com letras politizadas como em Fardado, Mensageiro da desgraça, República dos Bananas, Chegada ao Brasil (Terra à vista), vocais raivosos de Sérgio Britto e Paulo Miklos e riffs bem pesados como em Baião de dois. Senhor é uma música que remete muito às composições clássicas da banda nos anos 80. Os Titãs voltam a fazer algo original e mostram que ainda podem dar uma contribuição de qualidade ao rock nacional.

O álbum pode ser ouvido na íntegra no canal oficial da banda no You Tube.

Documentário sobre as manifestações de 2013

A intensidade e violência urbana que marcaram as manifestações populares ocorridas no Brasil em Junho de 2013 são tema do primeiro documentário produzido pela TV Folha, Junho – o mês que abalou o BrasilO longa retrata as reivindicações populares do período, o endurecimento da polícia para conter o vandalismo e os desdobramentos dos confrontos.

Mais do que um mês, as manifestações integraram um ano caótico da política brasileira, no qual vários segmentos sociais se espalharam nas ruas para pedir melhorias no transporte público, educação, saúde, protestar contra os gastos excessivos para realização da Copa do Mundo e corrupção em todas as esferas do poder. O retorno dos jovens às ruas (algo que não se via desde os cara-pintadas pelo impeachment do Collor) e esgotamento da população devido ausência de políticas públicas efetivas permitem ao filme questionar o real legado dos protestos populares e as perspectivas de novos confrontos ideológicos e físicos.

O documentário estréia nos cinemas e iTunes em 5 de Junho.

R.I.P. Jair Rodrigues

jair rodrigues

A lembrança mais marcante que terei de Jair Rodrigues será sua interpretação de Disparada no Festival de Música Popular Brasileira da TV Record em 1966. O cantor devotou sua emoção à poesia de Geraldo Vandré e Théo de Barros e Disparada venceu o festival daquele ano, empatada com A Banda, de Chico Buarque.

Jair Rodrigues era dono de uma voz singular e versátil: cantou samba, sertanejo e até rap. Irreverente, ele gostava de dizer que havia apresentado o primeiro rap da música brasileira ao recitar os versos de uma música que era metade cantada e metade “falada”, Deixa isso pra lá: “Deixa que digam / que pensem / que falem / deixa isso pra lá / vem pra cá / o que é que tem / eu não estou fazendo nada / você também / Faz mal bater um papo assim gostoso com alguém?!”.

Mas, foi com o rapper Rappin Hood que Jair Rodrigues obteve seu reconhecimento como “professor” dos MC`s. Os versos do Rappin Hood se misturaram a trechos de Disparada, o que originou a música Disparada rap, gravada com Jair Rodrigues em 2005.

 

Nirvana no rock n’roll hall of fame

nirvana rock and rool hall of fame 2014

No ano em que a morte de Kurt Cobain completa 20 anos, o Nirvana foi incluído no Rock and Roll Hall of Fame (se estivesse vivo, Kurt acharia isso legal?). A cerimônia, ocorrida no último 10 de Abril, reuniu os ex-integrantes da banda Dave Grohl, Krist Novoselic e Pat Smear com as cantoras Joan Jett, Kim Deal (ex-Sonic Youth), St. Vincent e Lorde para tocar alguns sucessos do Nirvana. Mais do que um momento de reconhecimento da banda com o maior impacto midiático dos anos 90 e uma das mais importantes na história do rock, a cerimônia teve um tom nostálgico ao permitir o reencontro de Dave e Krist com as músicas que muitos fãs jamais imaginaram que seriam executadas novamente pelos ex-integrantes do Nirvana.

Nirvana e Joan Jett – Smells like teen spirit

Nirvana e Lorde – All apologies

 

Nirvana e Kim Gordon – Aneurysm

Após a celebração, os remanescentes do Nirvana fizeram um “secret show” com as vocais convidadas, John McCauley e J Mascis (Dinosaur Jr) no bar Saint Vitus para 200 pessoas. O site da Billboard divulgou o setlist (muito foda!):

1. “Smells Like Teen Spirit” (with Joan Jett)
2. “In Bloom” (with Joan Jett)
3. “Breed” (with Joan Jett)
4. “Territorial Pissings” (with Joan Jett)
5. “Aneurysm” (with Kim Gordon)
6. “Negative Creep” (with Kim Gordon)
7. “Moist Vagina” (with Kim Gordon)
8. “Lithium” (with St. Vincent)
9. “All Apologies”  (with Joan Jett) (Krist Novoselic played accordion)
10. “About a Girl” (with St. Vincent)
11. “Heart-Shaped Box” (with St. Vincent)
12. “Drain You” (with J Mascis)
13. “Pennyroyal Tea” (with J Mascis)
14. “School” (with J Mascis)
15. “Serve the Servants” (with John McCauley)
16. “Milk It” (with John McCauley)
17. “Very Ape” (with John McCauley)
18. “Scentless Apprentice” (with John McCauley)
19. “Tourette’s” (with John McCauley)

O Nirvana foi anunciado no hall da fama do rock pelo ex-vocalista do REM, Michael Stipe, na presença dos ex-integrantes da banda, mãe, irmã, e viúva de Kurt Cobain, Courtney Love.  Courtney, em um lapso de fofura, abraçou e agradeceu Dave Grohl, soltando até um “i love you” e amando muito no Twitter. Li várias notícias de que o gesto representou uma declaração de paz entre os dois, que protagonizaram batalhas judiciais e muitas brigas nos últimos 20 anos. Mas, da parte de Courtney, acredito que foi apenas marketing.

courney dave ghrol nirvana rock n'roll hall of fame i love you twitter

mixtape#4: rock alternativo

mixtape4_cigarrinho de chocolateGame of pricks (Guided by Voices) – Uma das bandas do estilo lo-fi mais legais que conheço. Essa música é do disco Alien Lanes (1995), o qual deu à banda maior notabilidade na mídia norte-americana, embora tenha sido gravado a partir de takes sem grande qualidade.

Transport is arranged (Pavement) – Música do melhor álbum do Pavement, Brighten the corners (1997), na minha opinião.

Vaselina (El otro Yo) – El otro Yo é uma banda argentina com álbuns de sonoridade bem discrepantes, cujas influências vão de The Cure à Nirvana. Essa música é do álbum Traka-Traka (1994), fase em que a banda explorou mais o legado do Pixies, tanto nas composições, quanto no baixo e backing vocal feminino.

Cosmopolitan (Nine Back Alps) – Conheci essa banda na trilha de algum FIFA.

Kaleidoscope (Ride) – O Ride fez parte primórdios do estilo shoegazing, constituído por bandas com postura introspectiva nos palcos, com músicos que se apresentavam o tempo todo olhando para baixo e sem encarar o público.

Steady as she goes (The Raconters) – Projeto do Jack White, o maior Midas do rock nos últimos 15 anos.

In a jar (Dinosaur Jr.) – Essa música é do disco You’re living all over me (1987), um dos mais importantes no cenário do rock alternativo no fim dos 80.

Caring is creepy (The Shins) – Uma canção fofinha demais, eu sei.

In the hell of my head (Wry) – Brasileiros mais reconhecidos na Inglaterra do que aqui.

Strasbourg (The Rakes) – O “feijão-com-arroz” do indiecore dos anos 2000.

O rock n’roll sem censura

Era uma vez um programa infantil apresentado pela Angélica nos final dos anos 80. A atração era uma banda em ascensão no rock gaúcho chamada Cascavellets, a qual tinha músicas que falavam sobre… enfim, assista o vídeo e concluirá se a apresentação era apropriada para ocasião.

Repararam nos palhaços cantando a música no meio das crianças? Note também em 0:49 que há um gemido na gravação da música.

Incrível é o diálogo entre o vocalista e a apresentadora sobre a “música nova” a partir de 0:59.

Acho que a produção do canal colocou a banda no programa errado.

Os melhores discos de 2013

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Apenas uma lista dos discos que eu mais gostei em 2013.

Uma lista com um pouco de atraso, mas valeu esperar até o final do ano para ouvir um ótimo rock n’roll no álbum solo do Marcelo Gross, lançado em dezembro. Entre os internacionais também prevaleceu o rock/grunge do Mudhoney.

Nacionais:

1- Use o Assento para Flutuar (Marcelo Gross)

2- Animal Nacional (Vespas Mandarinas)

3- Sábado (Cícero)

4- Continente (Yamandu Costa)

5- Tribunal de Feicebuqui (Tom Zé)

Internacionais:

1- Vanishing Point (Mudhoney)

2- AM (Arctic Monkeys)

3- Lightning Bolt (Pearl Jam)

4- … Like Clockwork (QOTSA)

5- Right Thoughts, Right Words, Right Action (Franz Ferdinand)

Documentários que vi em 2013

Sound City (2013)

O documentário dirigido por Dave Grohl conta as histórias do famoso estúdio californiano, Sound City, no qual gravaram artistas como Neil Young, Fleetwood Mac, Frank Black e Nirvana. Interessante é ver como a época mais precária do estúdio, nos anos 70, foi palco de dificuldades e improvisos para as gravações dos discos, enquanto o advento das ferramentas digitais em meados dos anos 80 tornou o processo de gravação mais fácil, porém menos empolgante. O filme mostra ainda algumas jams entre músicos de diferentes épocas do estúdio, com destaque para o encontro de Paul McCartney com os ex-integrantes do Nirvana, Dave Grohl, Krist Novoselic e Pat Smear. Eles chegaram a se reunir para apresentações ao vivo.

Sócrates, o artista (2013)

Gênio do futebol, médico, engajado nos movimentos para retorno do regime democrático no Brasil, aspirante a poeta e músico e apaixonado pela boêmia: Sócrates viveu uma vida simples e de valorização do homem como ser pensante. Depoimentos emocionantes de parentes, amigos e admiradores como Raí, Juca Kfouri, José Trajano, Toquinho e Xico Sá.

Uma noite em 67 (2010)

O espectador é transportado para a noite de desfecho do 3º Festival da Música Popular Brasileira, representativa da pluralidade e intensidade cultural da música brasileira na época: o fim da jovem guarda, a consolidação da tropicália, os manifestos contra a inserção da guitarra elétrica na MPB e as composições de protesto contra a ditadura. Uma noite em que Gilberto Gil conseguiu superar seu medo de subir no palco, Sérgio Ricardo quebrou seu violão após não conseguir terminar de cantar devido às vaias do público, Chico Buarque fez sua épica apresentação de Roda Viva e Caetano veio com Alegria, Alegria, o que se tornaria, mesmo contra sua vontade, um hino de sua carreira. Essencial para apreciadores de história e da música popular brasileira.

Titãs – A vida até parece uma festa (2009)

A trajetória da banda mostrada a partir de acervo televisivo e filmagens realizadas pelos próprios integrantes dos Titãs ao longo dos 25 anos de carreira. Além da crítica ao sistema com a linguagem direta do punk, como já era feito pelas bandas de Brasília nos anos 80, os paulistanos dos Titãs tinham também um estilo peculiar de desconstrução do rock convencional da época, composições com a influência modernista da poesia de Arnaldo Antunes e performances mais “teatrais”, que me remetem a uma mistura de elementos góticos com Secos & Molhados. Como a maioria das bandas de rock, algumas das histórias do filme são entremeadas por episódios de extravagâncias e muita falta de lucidez.

Um visionário na balança

steve jobs filme movie Ashton Kutcher

Visionário e egoísta. Assim foi Steve Jobs segundo a cinebiografia Jobs (2013). Dono de uma mente iluminada para inovar, simplificar tecnologias e analisar oportunidades, Jobs possuía alguns aspectos que são referências para qualquer empreendedor.

Porém, o modo como Jobs alcançou seus objetivos foi sombrio. Ele cresceu através de uma liderança sem carisma e sobre o temor dos subordinados ao ameaçá-los para atingir seus objetivos, atitude completamente maquiavélica. As metas corporativas tornavam-se adornos de um líder narcísico. Além disso, Jobs tinha dificuldades para aceitar ordens e comunicar-se horizontalmente e verticalmente na Apple, o que resultava em ações unilaterais. Em suma, a postura de Jobs é o antônimo da ética organizacional.

Então, qual foi o segredo do sucesso e fortuna que seguiram na vida de Steve Jobs?

No outro prato da balança de um profissional manipulador, egoísta e de temperamento insuportável entre os colaboradores, havia uma pessoa com extrema competência para identificar necessidades e tendências no mercado de computadores/eletrônicos e a partir das observações propor simples inovações (simples para ele, por que via o que muitos não enxergavam), as quais foram responsáveis por mudanças na visão tecnológica que resultaram no que chamo de “grandes produtos simples”, como o iPod. Assim, Jobs tornou-se peça indispensável na engrenagem da Apple. Tanto, que anos após ser demitido da Apple devido a sua má conduta, foi convidado a retornar.

Apesar de seus problemas de convivência e atitudes reprováveis dentro da Apple, Jobs obteve glórias de muitas das suas idéias, pois a balança pesou em seu favor. Esse êxito seria possível para todos os que abandonam os valores éticos em benefício próprio? Não, acredito que isso está reservado para um pequeno grupo de humanos, cujas idéias são imprescindíveis.

mixtape#3: anos 90

mix3

Uma mixtape com músicas nostálgicas da década de 90. Pearl Jam, Nirvana, Alice in Chains e afins ficaram de fora, considerando que 50% do rock dessa época foi representado por este gênero e o grunge terá uma mixtape prórpria aqui, em breve.

Breaking the girl (Red Hot Chilli Peppers) – Uma música não tão conhecida do Blood Sugar Sex Magik (1991).

Wrong way (Sublime) – A carreira do Sublime não se resume a Santeria.

Big me (Foo Fighters) – Do primeiro disco do Foo Fighters. Gostava mais deles nessa época.

Buddy Holly (Weezer) – A Microsoft se aproveitou do fato dos integrantes Weezer serem rotulados como “nerds do rock” e colocou o clipe dessa música no CD-ROM de instalação do Windows 95.

She`s got issues (Offspring) – Do disco Americana (1998), o mais famoso do Offspring. Poderia colocar alguma coisa do Green Day aqui ou até do Blink 182. Mas, entre as bandas que fizeram sucesso com punk ou hardcore mais polidos nos anos 90 o Offspring é bem superior.

Alright (Supergrass) – Tocava em um comercial de alguma coisa que não me lembro e que passava na TV exaustivamente.

Live forever (Oasis) – Uma das melhores bandas dos anos 90, entre boas músicas, intrigas e megalomanias de Noel e Liam. Gosto tanto da primeira como da segunda versão do clipe dessa música.

Whiskey in the jar (Metallica) – O Metallica popularizou essa música secular da cultura irlandesa (com um clipe deveras junkie), que havia sido gravada por outras bandas nas décadas de 60 e 70. 

Sabotage (Beastie Boys) – Uma das poucas bandas que conseguiu unir hip hop + hardcore com irreverência e qualidade. 

Bullet with butterfly wings (Smashing Pumpkins) – Para ouvir várias vezes, repetidamente.